Montro violeta

27 de outubro de 2010







Vejo curtas unhas escuras, cadernos preenchidos de uma letra que não é minha e uma imagem distorcida com a pele bronzeada demais. A boca tem um gosto amargo, e desta vez é no sentido denotativo. Mas isto, de ser paladar e não palavras, não ameniza o efeito.
O vicio bateu de novo, tenho vontade de marcar no diário, registrando os pensamentos que se adicionam em imagens negativas - quem me dera não ver o copo vazio - e assim, me resta apenas a certeza que haverá, novamente, mais escuras olheiras no espelho pela manhã.
A noite ainda não se foi, me tortura os pensamentos inquietos, calando a tentativa de vislumbrar o efeito de manhãs primaveris, afinal, o monstro embaixo da cama ainda me espera. E eles, talvez agora penetrados nos poros do travesseiro, já não tão macio como foi um dia, discutiram da certeza de que eu cometerei os mesmos erros e as mesmas falhas promessas.
Fecho os olhos e os ouvidos, o gosto ainda não some e o efeito ainda se repercute por todo corpo, possivelmente o que os saudáveis e sensatos homens chamam de morte gradual e lenta, entretanto não demora tanto assim. Ainda hoje, se os ponteiros não preencherem o doze rápido demais, vou descobrir, melhor, redescobrir, sem tanta novidade, que o medo que a esperança parta é imensa, e o medo que ela já tenha partido no primeiro instante é ainda maior.
Calo os múrmuros internos que assolam, mas não as ásperas mãos que tateiam o que elas tanto condenam.
Aos poucos tudo vai fazendo teu efeito, inclusive o bom senso de sobrevivência que implora para que me perdoe, mais uma vez, eternamente mais uma vez. Teria que antes perdoar os monstros, o do armário, do debaixo da cama e até os do porão... mas antes disso, deixa eu tentar mais uma vez, mais um dia. Riu descrente da proposta, eles também.

0 Comentários:

 
Panluka - by Templates para novo blogger